quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

"Onde há presença da potência o poder não cola"

Onde há presença da potência o poder não cola (conferência transcrita)

(artigo consultado em 15/03/2011, no site:
http://escolanomade.org/textos/fuganti-luiz/onde-ha-presenca-da-potencia-o-poder-nao-cola-conferencia-transcrita)

Qua, 23 de Abril de 2008 07:19 Luiz Fuganti
Transcrição da palestra proferida durante o 1º CULPSI – Cultura &
Psicologia, evento realizado pelos estudantes de psicologia da
Faculdade de Tecnologia e Ciências (campus de Vitória da Conquista,
Bahia) entre os dias 02 e 04 de maio de 2007
Luiz Antônio Fuganti

Aplausos...

Essa expressão me emociona... Antes de tudo, boa noite a todos. É uma
alegria imensa, é uma honra estar aqui e ser chamado pra ocupar um
lugar, um tempo... Espero que esse tempo seja proveitoso para vocês e
que... A gente sente que tem a dizer em relação aos problemas mais
essenciais que atravessam as nossas vidas. Então, eu dizia que os
problemas essenciais que atravessam as nossas vidas muitas vezes não
são tocados, a gente apenas apreende os sintomas e os efeitos desses
problemas, e a gente de alguma maneira tenta resistir, ou gritar, ou
fazer com que algo em nós (algum tipo de voz, algum tipo de força) se
manifeste. Mas, enquanto a gente não apreender mais do que os sintomas
ou do que os efeitos; enquanto a gente não sair simplesmente de uma
resistência; enquanto a gente ainda focar o outro ou uma referência
(seja do ponto de vista do mal, seja do ponto de vista do bem...
"evitar ou combater o mal", "seguir e fazer o bem"), eu penso que a
gente não está fazendo nada efetivamente. Estamos fazendo muito pouco,
ou quase nada.

Me incomoda um pouco mais a palavra "resistência" do que talvez o
conceito de resistência. Porque eu acho que mais que resistir, ou
talvez, a melhor forma de resistir seja criar; a melhor forma de
ocupar o espaço e o lugar é inventar lugar, esquecer os espaços dados.
É inventar o próprio tempo, e não "ter tempo pra gastar". Então, eu
acho que não existe saída – mais até do que liberdade –, não existe
saída senão a partir do crescimento de nós mesmos. Eu acho que antes
de tudo a gente tem que começar a aprender a abrir as portas pr'as
forças que nos atravessam, mais do que querer ocupar um papel ou uma
função que talvez nos tenha sido designada (esses papéis, essas
funções...) por forças que nós já esquecemos e são forças de poder.

Eu não acho que é uma boa saída, uma boa solução a gente ocupar o
poder, ocupar lugares de poder. Eu acho que nossa questão é
desconstruir o poder. O poder – se ele é masculino, se ele é feminino,
se ele é negro, se ele é branco, se ele é índio... – só acontece a
partir da impotência. Não há poder que não se alimente da impotência,
que não precise das paixões tristes pra viver. Todo poder, ele está
fundado na impotência. Então, isso pode até gerar algum tipo de
confusão porque vocês podem pensar: "bom, mas então o que sobra? Se
não tem o poder, se os que ocuparam o poder, os que ocupam o poder, os
que têm poder, os que exercem poder simplesmente... devem ser
varridos, devem ser eliminados e não ter mais poder de forma alguma?".
É exatamente o contrário: o que sobra é o que há de pleno na vida.

O poder é que deixa a vida imperfeita, que deixa a vida triste, que
deixa a vida tediosa, que faz nos sentir ridículos, impotentes,
tristes, entediados, depressivos e todas as desqualificações que a
gente possa aqui enumerar. É o poder que na verdade obstrui os poros,
as passagens dos afetos, das forças, dos tempos próprios que nos
atravessam e que nós não sabemos mais tocar, nós não temos mais a
sensibilidade pra essas forças, não temos mais a visão do tempo ou do
imperceptível pro tempo próprio que nos atravessa, pro ritmo do nosso
coração (não simplesmente como uma metáfora do coração, mas de fato um
ritmo)... Não há ser neste universo que não tenha ritmo próprio, que
não tenha vibração própria, que não crie tempo, que não crie espaço,
que não crie corpo, a não ser quando ele perdeu a capacidade de
reencontrar a fonte que o alimenta. E na medida em que a gente perde a
capacidade de reencontrar a fonte que nos sustenta – que nos faz
respirar, que nos faz ouvir, que nos faz falar, que nos faz pensar,
que nos faz escrever, que nos faz andar, que nos faz ler, que nos faz
acontecer... –, na medida em que a gente perde a relação com essa
fonte, a gente pensa que o acontecimento é o lugar de uma banalização,
de uma vulgarização, de uma desqualificação da vida. A vida não está
mais no acontecimento. E a gente desinveste o acontecimento em prol de
uma referência.

Essa referência, ela tem vários nomes: você pode chamar isso de Deus,
de Estado, de Lei, de Capital, de Função, de Profissão, de Papel
Social, de Devoção Pública, de "salvador-de-meninos-carentes"... O que
eu quero dizer é que sempre que a gente foca o nosso desejo num
objeto, algo falta ao nosso desejo. E essa visão – ela já está sendo
investida há pelo menos dez mil anos –, ela vem atravessando os modos
humanos de ser. Na medida que falta algo ao desejo, falta algo
essencialmente à existência. E na medida em que falta algo à
existência, a gente busca uma "verdadeira existência" em algum lugar,
em outro mundo, em Deus... Mas esta existência se torna imperfeita, se
torna desqualificada; nós não sabemos mais encontrar a fonte da
plenitude, aquilo que faz sentir que ao desejo não falta nada. Aquilo
que põe a potência não no lugar do poder – porque nós temos que
destruir o lugar –, mas a potência no acontecimento. E o acontecimento
não tem lugar, ele faz o lugar; ele não tem tempo, ele faz tempo. Nós
fabricamos tempo, nós fabricamos lugar, nós fabricamos os corpos, os
afetos, inclusive a maneira da gente perceber o mundo.

Então, eu sinto que muitas vezes... A gente viu aqui um filme1
belíssimo, mas em algumas falas do filme, alguma coisa ainda atravessa
uma espécie de choramingo, uma espécie de queixa; a gente ainda chora
demais, ainda se queixa demais, ainda lamenta e busca a causa da
injustiça que nos acontece. Sempre a gente vê alguma coisa de feio no
acontecimento. Evidentemente, porque o acontecimento está banido. O
que temos são fatos, o que temos são imagens, o que tem é consumo, o
que tem é incapacidade de experimentar realmente: nós consumimos no
lugar de experimentar. Mas será que de fato nós consumimos? O que nós
consumimos?

Eu diria, concordo com uma fala do filme que diz que nós temos que
virar "anti-consumistas", ok! Mas anti-consumistas daquilo que é
inconsumível, daquilo que não é experimentável: uma imagem morta não é
experimentável; uma marca não é experimentável; um objeto de consumo
através da sua imagem, do seu valor atribuído por uma moeda ou por um
reconhecimento não é algo vivo. Então, portanto, não é algo
consumível. Então, eu diria o contrário: eu acho que nós não
consumimos, nós não sabemos consumir, porque existe um consumo que é
essencial à vida; a vida consome pouco, ela não consome quase nada. É
por isso que somos miseráveis. Miseráveis não apenas internamente, mas
nas relações. Porque o interior de qualquer coisa é sempre uma relação
que desemboca no fora. Não existe uma interioridade em si, é sempre na
relação. E a gente é miserável nas nossas relações.

Quando a gente quer ajudar, quando a gente que reformar, quando a
gente quer revolucionar a gente sempre vai atacar alguma coisa.
(Aquilo que o Negri2 fala e que o Valter chamou atenção em relação à
idéia de "êxodo", do desinvestimento, é uma coisa muito interessante,
porque há uma cumplicidade na sustentação do poder). Nós sustentamos o
poder mesmo, e talvez, principalmente, quando nos opomos a ele. Claro
que a oposição ao poder é fundamental, num certo sentido. Mas, mais
por efeito do que por finalidade. E como é que a gente se opõe
eficazmente ao poder? A gente se opõe eficazmente ao poder na medida
em que a gente cria – não exatamente uma alternativa, mas uma via
implacável, necessária: não é alternativa de nada! Porque não é livre
escolhe, não se trata de livre escolha, se trata de uma fatalidade, de
uma necessidade: a vida tem que se efetuar. A questão é: Como ela se
efetua? E aí entra o problema ético.

Como a vida se efetua? Qual a qualidade da efetuação? Agora, que ela
se efetua, ela se efetua necessariamente: ela se efetua achando que o
desejo é falta; ela se efetua achando que tem que ter um provimento;
ela se efetua achando que tem que ter uma verdade que ela busca, que
ela introjeta e que orienta a si... ela se efetua de alguma maneira.
Mas ela se efetua também na medida em que ela é capaz de produzir, a
partir de si, uma diferença, sem a qual não haveria invenção, não
haveria criação. Nós só somos efetivamente livres quando nós criamos –
não apenas objetos no mundo, mas quando nós criamos as condições da
produção dos objetos, as condições dos movimentos, dos afetos, das
ações e das paixões, das experimentações sensíveis do corpo, as
condições da produção e da invenção do pensamento, porque pensar antes
de tudo é inventar. Não basta imaginar para pensar. Pensar é inventar
realidade. Qual é a realidade que o pensamento inventa? O pensamento
inventa sensações (como objeto da arte), inventa funções (como objeto
da ciência), inventa acontecimentos virtuais ou conceitos (como objeto
da filosofia, por exemplo). Mas são realidades, não são
representações. A representação, ela tem uma dupla função: ela tem
sempre a função essencial de desqualificar a vida, porque ela quer se
por no lugar, ela que pôr algo supostamente mais importante "fora da
vida" para governar e controlar a vida. Mas aí eu diria: de onde vem a
representação? Ou de onde vem esse mal, esse mal humano que o homem
fez para ele mesmo? O homem inventou uma gaiola e entrou dentro dela.
E mesmo quando você abre a porta da gaiola, ele sai, não sabe muito o
que fazer, volta pra dentro dela. Mesmo que muitas vezes essa gaiola
se chame "igualdade", "liberdade". O que que a gente entende
definitivamente por liberdade? Será que liberdade é livre arbítrio. E
igualdade? Igualdade em que sentido? Será que a igualdade não é um
engodo, um engodo tremendo? Ou então, outra coisa que agora virou moda
dizer: "respeito às diferenças". De que ponto de vista o respeito às
diferenças é de fato um exercício da diferença? Ou é apenas uma
maneira de substituir a diferença pelo discurso: "respeite a
diferença, viva a diferença" mas fazer a diferença, é outra coisa!
Então, será que a gente é capaz de sair do discurso da representação?

Diz-se sempre que uma coisa é a teoria e outra coisa é a prática. Só
pra quem não pensa! Porque pra quem pensa, teoria e prática é uma
coisa só. Não tem como o pensamento, se ele é pensamento, não ser uma
ação, não ser um ato, ou não ser uma criação... Ou então ele não é
pensamento, então a gente está chamando o pensamento de outra coisa,
ou outra coisa de pensamento, seria bom a gente adequar aí, a palavra
ao conceito.

Então, o que eu queria chamar à atenção é que, na verdade, não existe
poder que não seja exercido. E não existe exercício de poder que não
se exerça sobre o objeto que o interessa: o objeto de extração de
energia, extração de mais-valia, de extração de captura, de extração
de atenção... e essa extração ou esse exercício se dá sobre o quê?
Sobre os nossos corpos, sobre o nosso pensamento. O exercício se dá
sobre nós. Portanto... você Mônica dizia antes aqui, não é?: "como as
mulheres deixaram que os homens tomassem conta?". É claro que você fez
um pouco de brincadeira, zoou um pouco com a cara dos homens de modo
muito interessante, com muito humor, é muito bom isso. Mas, agora eu
quero generalizar tua questão e dizer assim: "Por que que a gente
deixa que o poder se exerça sobre nós?" – Por que o poder só se exerce
sobre nós. Sem nós, o poder não tem sentido nenhum. Ora, se ele se
exerce sobre nós, é porque nós somos muito importantes para o poder. É
assim, tipo aquelas ligações telefônicas que você liga e aí fica
esperando, e do outro lado da linha diz assim: "não desligue, você é
muito importante para nós"... nós somos... é a mesma relação.

A miséria é muito importante para o poder, a desqualificação é muito
importante para o poder, o cinismo é muito importante para o poder, a
hipocrisia é muito importante para o poder. E é muito importante para
o poder incluir-nos na miséria. O discurso da inclusão é abocanhado
pela direita e pela esquerda? O que que acontece de fato com a
esquerda, sempre que ela empreende movimentos revolucionários e, na
grande maioria dos casos, ela fracassa? Será que o motor, o motivo
revolucionário é a potência ou o ressentimento?

Geralmente, alguma coisa berra em nós, eu dizia no início. Alguma
coisa berra, a gente quer se expressar, ás vezes a gente não sabe
expressar, e quando conquista uma expressão, maravilha! Até festa isso
vale. Vale festa, a gente tem que cultuar isso. Mas a gente tem que
começar a refinar um pouquinho mais, não pra elitizar, mas refinar no
sentido de começar a perceber "quem fala em nós". Que força nos
atravessa? Que força que reivindica igualdade, liberdade etc. etc. O
que quer o desejo que quer algo? Ao querer algo, o que meu desejo
quer?

Muitas vezes nós somos enganados, geralmente somos enganados pela
nossa consciência. Há um paradigma ocidental, eu diria que é um
postulado, isso está dado como uma verdade ocidental, que a
consciência é o lugar da luz, da razão, da clareza. A gente aqui diria
o contrário: a consciência é o lugar do retardamento. Eu me torno
retardado sempre que eu vivo a partir da consciência. A consciência
sempre chega depois. Ela sempre chega depois que o mais importante já
se passou, onde não há mais nada a decidir. Mas eu posso simplesmente
reagir. É por isso que essa palavra, "resistência", me incomoda um
pouco. Reagir a partir da consciência, ainda é uma maneira, certo.
Febre ainda sinaliza que o corpo está trabalhando; dor ainda sinaliza
que as forças precisam se dispor de um modo diferente. Mas essa
sinalização é apenas o sintoma. O que move, de fato? O que produz a
febre? O que produz a dor? Será que a dor não é muito bem vinda? Será
que o sofrimento não é muito interessante? Será que a doença e a
miséria, às vezes, não são um presente, um dom?

Muitas vezes a gente se sente injustiçado, a gente não tem atenção
suficiente, a gente só existe – não pelo consumo, que é o que diz o
filme3, porque o consumo ainda não basta, nós precisamos do olhar do
outro pra existir. E que tal se a gente conquistasse um olhar que não
é nem do outro, nem o meu, mas um olhar entre, que nos faz outro e a
si ao mesmo tempo. Que não tem esse espelhamento, mas que tem uma
ressonância.

Sempre que a gente reivindica um reconhecimento, uma existência, a
gente vai, sem exceção, buscar o melhoramento do mundo. A gente vai
querer melhorar o mundo. Só quem quer melhorar o mundo é o moralista.
Aqui eu queria introduzir a diferença entre Moral e Ética.

O moralista é aquele que quer reformar ou melhorar o mundo. Mas há um
pressuposto naquele que quer reformar ou melhorar o mundo. O
pressuposto é que há alguma coisa no mundo ou na natureza que tem que
ser reformada, certo? Que não vai bem. Mas, e aquilo que sustenta a
vida, aquilo que sustenta a natureza, aquilo que existe
necessariamente, aquilo que produz a si mesmo e produz todas as coisas
não vai bem? Ou não vai bem a nossa capacidade, nossa sensibilidade,
nossos poros entupidos, que não acedem mais a essa realidade
auto-sustentável, que não tem falta nenhuma, que não precisa de objeto
fora dela pra se satisfazer?

Há uma realidade em nós que é uma realidade plena. Ao desejo – diria
Espinosa – não falta nada. Ou, a toda potência corresponde uma
capacidade de afetar e ser afetado. O que nós fazemos da nossa
capacidade de afetar e ser afetado? Isso é que está em questão sempre.

A moral diz: "encontre a verdade, encontre o ideal, encontre o
horizonte, o bem, a boa maneira de ser, encontre o dever-ser da
existência... A vida não vai bem, precisa ser reformada e melhorada. A
vida está em dívida, a vida precisa encontrar a forma verdadeira de
ser". Isso é o que reza a moral. A moral liga a existência à
obediência, liga a existência a um dever-ser.

A ética faz ao contrário. (E essa distinção não é dominante.
Geralmente se confunde ética e moral. A gente está criando aqui uma
distinção a partir de alguns filósofos ocidentais; de alguns
pré-socráticos – mas principalmente de Epicuro e Lucrécio –, Espinosa,
Nietzsche, Bergson, Foucault, Deleuze...). A ética liga a existência
ao que ela pode e não ao que ela deve. A existência pode. E aí, vocês
podem fazer aquela pergunta tradicional: "mas se a existência pode,
ela também pode matar, ela pode fazer o mal, ela pode adoecer, ela
pode isso, ela pode aquilo...". Eu diria que não há potência no
negativo. A potência é totalmente afirmativa. Não existe uma ação –
que se possa chamar de ação – que não seja positiva e alegre. Toda
ação é positiva. Toda ação é alegre. Toda ação é uma potência de
composição. Mas a gente geralmente moraliza a ação. A gente diz: "não,
mas existem ações más". Se for ação, não pode ser. Mas pode, acontece
de uma ação me fazer mal. Mas por quê? Porque que geralmente uma ação,
que é uma potência de composição, nos faz mal? Por que nós,
geralmente, estamos separados do que podemos. Nós estamos separados da
capacidade de acontecer.

O que é viver, o que é existir senão uma potência de acontecer? A
gente assistiu aqui agora a uma série de manifestações que,
manifestamente, traduziam essa potência de acontecer. Alguns
decorando, mas nesse decorar uma emoção, uma vivência, que não tem
nada a ver com o decorar; outros improvisando de um jeito qualquer,
outros improvisando de um jeito mais elaborado, mas sempre uma
confiança no acontecimento. Aí eu diria que existe uma resistência num
sentido interessante: uma confiança e uma afirmação. Uma afirmação que
faz com que a gente retome novamente o sentido do que é viver, do que
é estar vivo. Porque estar vivo é acontecer. A capacidade de acontecer
nos é roubada já desde o berço, desde as nossas relações familiares;
uma porque a família nunca foi celula matter de nada. A família não é
o começo das coisas, ao contrário, a família, ela já é a ponta, já é o
resultado de uma máquina social, de um maquinismo social. Há uma
máquina muito mais sutil, que vai muito além das máquinas cibernéticas
de controle, que é a máquina social.

O que que é uma máquina social? É toda a rede afetiva que nós
funcionamos ou da qual nós fazemos parte. Nós funcionamos nessa rede,
nós somos cúmplices dessa rede, nós alimentamos essa rede. Do ponto de
vista da nossa sensibilidade, do modo como a gente sente, a partir do
nosso regime de corpo, do nosso regime de gestos, de movimentos, do
nosso regime de luz, do nosso regime de sensibilidade e também a
partir do nosso regime de signos ou de uso dos signos, do uso das
palavras, do uso da linguagem escrita, falada e outros tipos de
linguagem, enfim, nós fazemos parte de uma teia, de uma rede que
maquina o indivíduo, que maquina a família, que maquina o objeto, que
produz subjetividade, que produz o ego, que produz o homem, que produz
a mulher, que produz o aluno, que produz o professor, que produz o
capitalista, ou seja, as funções são produzidas socialmente. E quando
a gente acredita na verdade das funções, a gente está, como diz lá o
poema do Fernando Pessoa, se colando a uma máscara – que nos foi
oferecida em nome de um reconhecimento, em nome de um crescimento, em
nome de ter um papel na sociedade, ter um papel na vida, ter uma
função digna de homem de bem, de homem justo etc.

Então, voltando à questão: a consciência é o lugar do efeito, o lugar
das imagens e o lugar dos signos. A consciência é sempre uma imagem do
que se passa realmente em nós. A consciência... por exemplo, o
sentimento de tristeza é uma imagem do afeto real de tristeza que se
passa em nós; o sentimento de alegria é uma imagem do afeto real de
alegria que se passa em nós. O que é a alegria? É um aumento de
potência. O que é a tristeza? É a diminuição da nossa potência. O que
é o amor? É algo em nós que faz aumentar a potência e que quer se
ligar à causa desse aumento de potência em nós, que devotamos um amor
para com a causa do aumento de potência em nós. O que é o ódio? É algo
em nós que é diminuído, que é destruído, que é separado do que pode,
que entristece e que quer identificar a causa daquilo que me faz mal,
que produz doença.

Ora, enquanto a gente tem a imagem disso que se passa em nós, a imagem
do afeto; enquanto a gente está ligado a sentimentos apenas, nós vamos
reagir também com sentimentos, também de modo simplesmente passional.
Não que as paixões sejam ruins ou sejam vícios, não é isso. Mas é que
não basta ficar na paixão. É preciso transmutar cada paixão em ação,
em ato, em criação. A paixão, ela pode ser um excitante, por pior que
ela seja. Ela pode ser um bem, ela pode ser algo de muito
interessante. Diz Nietzsche: muitas vezes a gente se apressa (ou a
sociedade se apressa) em classificar em doença algo que a própria
sociedade – ou os corpos enfraquecidos da sociedade – não podem
suportar. Mas muitas vezes a doença nada mais é do que um alargamento
da experiência do corpo, uma oportunidade de experimentar modos
diferentes de sentir, de pensar. E nós nos apressamos a classificar
aquilo como doença. Muitas vezes ali estava o início de um exercício
de laboratório, o início de uma criação. E nós simplesmente abafamos
aquilo. É que a criação é perigosa. E pra quem que ela é perigosa?
Pr'aqueles que precisam da impotência. Aquele que cria não precisa de
reconhecimento. Só julga quem é impotente pra criar. Aquele que cria é
generoso, ele gera, ele dá, ele produz valor, ele não precisa de
valor. Ele não precisa que reconheçam o trabalho dele. Nem ele dá
valor, nem ele tira valor.

Nietzsche diz uma coisa muito interessante: é impossível que eu dê a
Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus. Mas ele não diz
assim, ele é mais sutil (aqui eu fui muito explícito). Ele diz: "é
impossível eu dar ao outro o que é do outro, ou tirar do outro o que é
do outro. Que me baste eu dar ao outro (ou a vocês, ou a todos...) o
que é meu". O que é meu não pode ser tomado, nem roubado, nem perdido.
Todos nós temos algo de único, que não pode ser tomado, que não pode
ser roubado, mas precisa ser encontrado em nós mesmos: está aí, e nós
mal nos tocamos, mal nos permitimos. Na medida em que eu me torno
criador, a criação faz com que isso venha à tona. E quando isso vem à
tona, algo de novo emerge no universo. Como diz Nietzsche, "a natureza
salta". Raras vezes a natureza salta, ela salta quando algo de novo
emerge. Claro! Raras vezes ela salta do ponto de vista do homem! Ela
está saltando o tempo inteiro. A natureza pulula de criação. Mas do
ponto de vista do homem, da existência triste que o homem leva,
exatamente por estar aprisionado na sua gaiola, e investindo nessa
visão, porque nós investimos nessa visão... faz com que a criação se
torne um ato raro. E aí a gente não sabe mais se, na medida em que a
gente cria, a gente não precisa de reconhecimento, a gente não precisa
correr atrás do dinheiro, a gente não precisa mais defender o nosso
lugar e "ter cuidado com o que fala" – porque senão pode perder o
emprego, não é? – ou com o que faz, porque senão vai ser ineficiente.

Ou seja, a vida ativa, a vida criativa, ela tem um pressuposto
afirmativo. Afirmativo de quê? Da superfície que envolve essa
potência. E que superfície é essa? É a sensibilidade imediata que
atravessa o corpo, a superfície física. Que também é o tempo imediato
que atravessa o pensamento, é a pele metafísica do tempo. Há uma pele
do tempo, assim como há uma pele do espaço. Há uma superfície que
envolve o corpo e o pensamento, que envolve o desejo. E essa
superfície, ela está toda entupida, ela está toda estriada, ela está
toda marcada, esquadrinhada. E é por essa superfície que nós
projetamos o futuro e introjetamos uma memória, e perdemos o devir, e
perdemos o acontecimento, e perdemos a capacidade de acontecer
imediatamente. Nós não sabemos mais "alisar" essa superfície. Nós não
sabemos mais viver a partir de um corpo intenso, nós precisamos do
nosso corpo muito organizado. Nós não sabemos mais abrir mão das
formas, das figuras e dos controles. Nós investimos sempre em
controle... por quê? Porque nós desconfiamos do acontecimento ("mas o
acontecimento, ele nos é injusto!"). Por que ele nos é injusto? Porque
sempre ele nos traz muita dor, muito sofrimento. Ele de fato incomoda;
o acontecimento incomoda. Incomoda por quê? Porque eu não sei extrair
mais do acontecimento aquilo que é necessário ali. Eu não sei mais
extrair de uma relação acidental a essência dessa relação acidental.
Eu não sei mais extrair de um devir o ser desse devir. E não sei mais
extrair de uma multiplicidade caótica a unidade dessa multiplicidade
caótica. Eu não sei mais encontrar – ao mesmo tempo que eu não sei
mais dar – algo de mim que é único e singular. Na medida que eu não
sei mais dar algo de mim que é único e singular eu preciso de um
provedor.

Esse provedor, nós estamos fartos de saber dos nomes que ele toma; têm
vários tipos de deus ou de deuses; tem até pros ateus... também têm os
provedores. Tem provedor de tudo o que é tipo. Inclusive pros
anarquistas existem provedores. Existe um certo motivo anarquista que
é o motivo do ressentimento. Mas existe um anarquismo muito
interessante, não é simplesmente jogar fora o anarquismo ou jogar fora
a esquerda, ou jogar fora a maneira de reagir. É, de fato, o que reage
em nós? Será que ressentir é de fato reagir? Reagir antes de tudo é
inventar. E inventar é necessário. Abrir a nossa capacidade de ser
afetado, e não de qualquer maneira: abrir ao máximo, mas ser capaz de
abrir ao máximo. Não é abrir ao máximo como um bobo e deixar tudo
entrar, mas abrir ao máximo com um aprendizado, com capacidade; a
gente se prepara pra se abrir ao máximo.

Mas será que a gente se prepara pra abrir ao máximo? Será que
geralmente a gente não se prepara pra se fechar ao máximo (pra "fechar
o corpo", como dizem)? A melhor maneira de manter o corpo fechado é
com o máximo de abertura. A melhor maneira de ser imperceptível é com
o máximo de exposição...4

... que necessariamente passa. O tempo passa: você nasceu, você se
desenvolve, você vai morrer. O tempo te atravessa, não tem como você
deter isso, a passagem está aí. Agora, ela está aí, e eu posso ou
achar ruim, ou achar triste morrer ou achar que "puxa vida, a gente
envelhece, é tão chato isso...". Ou, de repente, perceber que a
passagem é a própria fonte da plenitude, da perfeição da natureza.
Saber que morte, que decadência, que destruição são meros efeitos de
presenças criativas. Assim como pra semear a terra eu preciso destruir
a terra socada, eu preciso arar, arejar a terra; assim como pra um
pintinho nascer ele precisa quebrar a casca do ovo. Esta destruição é
bem vinda.

Ora, essa é a destruição efeito da afirmação. E seria essa destruição
a mais interessante pra... não nós "fugirmos do poder" (eu vi alguma
coisa aqui também no filme5 dizendo assim: "o êxodo, a fuga do poder é
muito mais interessante do que ocupar o lugar do poder"). Mas não é
fugir do poder, é fazer o poder fugir de nós. Onde existe presença o
poder não cola. Onde existe presença existe potência. E existe um modo
de ser na vida pleno, absolutamente pleno, onde morte não atravessa,
onde mal não atravessa, ao contrário: morte e mal são presentes
também. Nós aproveitamos tudo.

O moralista é aquele que diz assim: "tem alguma coisa na vida e no
mundo que eu não quero e eu vou recusar. E tem outra coisa que eu
quero. Tem alguma coisa que eu espero nunca encontrar, eu tenho medo
de encontrar inclusive, e tem outra coisa que eu espero encontrar.
Então eu vou me ligar ao Bem, que é essa coisa que eu espero
encontrar, e vou evitar ou combater o Mal, essa coisa que eu não quero
encontrar. Assim age o moralista.

O homem ético, não é que ele não seja seletivo, ao contrário, ele tem
uma seleção. Mas a seleção do homem ético não tem nada a ver com essa
seleção entre o bem e o mal, ele não escolhe entre o bem e o mal. Ele
diz como Nietzsche (vamos citar Nietzsche, novamente); Nietzsche diz
assim, Nietzsche faz uma paráfrase de Jesus e diz: "Vinde a mim todo o
acaso, porque ele é inocente como uma criancinha". Não é simplesmente
"vinde a mim as criancinhas, porque elas são inocentes"... E os
adultos, e os outros? "Não, eles não são inocentes"... Então, não:
Vinde a mim todo o acaso. Todo. Inclusive o pior dos males.

A capacidade do homem ético é aquela de transmutar o mal e a doença e
o inimigo em aliado sem derramar uma gota de sangue, com o mínimo
gesto. Existe um pensador chinês chamado Sun Tzu, que escreveu uma
obra há uns dois mil e quinhentos anos atrás, que chama "A arte da
guerra". Esse pensador, ele diz que a melhor vitória, a melhor maneira
de vencer o inimigo é transformar o inimigo, sem derrubar uma gota de
sangue, em aliado.

Então, como é que você transmuta o mal? Espinosa diz: "se o mal te
atinge, se a dor te atinge é porque alguma coisa de comum com você ela
tem ou ele tem." Como é que te atingiria se não tivesse nada em comum?
Essa questão é seriíssima. Se a gente pensar realmente, a gente vai
perceber que em qualquer relação que nos afeta há um pressuposto, uma
comunidade de ser. Mas aí eu faço outra questão: é por aquilo que é
comum a mim e ao outro que me fez mal que eu fiquei pior, que eu
entristeci ou que eu adoeci? Jamais. Aquilo que é comum não pode me
fazer mal.

Então, no mal, na dor, no inimigo existe uma comunidade de ser. Será
que então o mal, a dor ou a doença não é apenas um mau-jeito, uma
má-maneira de se relacionar? Má-maneira, e não mau-ser, e não mau-eu,
mau-outro. Má-maneira, mau-modo. É no modo que está o bem e o mal ou o
bom e o mau, melhor dizendo. E eu posso – isso eu posso – mudar o
modo, mudar o jeito. Ora, nós vivemos a milhares de anos numa relação
– claro, de modo sempre muito diferenciado, porque as formações
sociais de hoje são bem diferentes das que já foram – nós vivemos a
partir de uma maneira, de um modo de vida que está inscrito na nossa
consciência e que nos separa, na verdade, do que nós podemos no
acontecimento. Nós não acontecemos mais, exatamente porque nós
acreditamos que a maneira boa de viver é seguir esse modo inscrito na
nossa consciência. É a nossa consciência que resume a superfície do
espaço e a superfície do tempo. Ela que resume isso tudo e captura em
nós.

Então, às vezes eu ouço muito os marxistas dizerem – e eu digo isso
porque eu tenho simpatia por um certo marxismo –, os marxistas dizerem
que "é preciso dar consciência ao povo". Nós já estamos entupidos de
consciência, nós só temos consciência! Oxalá tenhamos pensamento, que
vem antes da consciência. O que que é a consciência? É a idéia da
idéia. O que que é o pensamento? É a idéia. Eu preciso ter a idéia pra
daí ter a idéia da idéia. A idéia é anterior, é mais essencial. Então,
não se trata de dar consciência, a consciência é o lugar privilegiado
da captura.

Então nós aderimos a uma função social, a um papel social, a um cargo,
a um gênero (mulher, homem, criança, macho, fêmea, adulto, negro,
branco, índio). Nós vamos aderindo a essas figuras e funções que estão
implicadas no uso dos signos, no regime de signos, na gramática que a
gente acredita ser verdadeira ("é preciso falar de modo correto, de
acordo com as leis da gramática"), essa mesma gramática inventa as
dicotomias (preto x branco, homem x mulher, macho x fêmea etc.
etc.)... inclusive plural x singular. E aí eu sempre digo "não, o
plural é o oposto do singular".

Será que a gente é capaz de ultrapassar a gramática, ultrapassar esse
regime de signos que nos faz falar de um certo modo já, que nos faz
obedecer a ordens imperceptíveis e invisíveis no discurso e encontrar
uma singularidade imediatamente plural, uma singularidade que seja
essencialmente plural, essencialmente múltipla? Será que nós não somos
vários? Será que o eu é a nossa verdade? O ego, a identidade? Será que
se a gente invertesse a forma, ao invés de buscar-mos o "verdadeiro
eu" – talvez, ao invés da psicologia sempre ajudar aquele que procura
o psicólogo a encontrar uma subjetividade eficaz, um eu unitário, com
coerência, com começo, meio e fim, com bom senso e com senso comum,
com uma boa razão e com uma boa moral... – será que não seria
interessante a gente dizer assim: "ao me tornar diferente de mim
mesmo, algo se passa de novo na minha vida. E quando algo de novo se
passa na minha vida, ao me tornar diferente de mim mesmo, será que eu
não estou criando realidade? Será que eu não estou produzindo a mim
mesmo de modo diferente? Será que eu não estou doando pra sociedade
uma oportunidade de perceber o mundo de um modo diferente? Será que eu
não estou produzindo um afeto inédito, que nunca existiu? Será que eu
não pus o meu desejo, a minha potência em variação de modo
absolutamente diferente do que tinha?

Então, atrás desses paradigmas – da identidade, da semelhança, das
figuras, dos papéis, do reconhecimento, das verdades estabelecidas, da
formação que um curso te dá, da competência e da autoridade que esse
curso te dá, ao fazer com que você introjete um sujeito do enunciado
num sujeito de enunciação que vai virar uma autoridade... – será que
não seria o momento de começarmos a desconfiar que nós simplesmente
reagimos a estímulos da mesma maneira que um animal adestrado reage
nas máquinas que são impostas a ele? Será que nós não estamos num
regime de obediência quando acreditamos que pensamos e criamos?

O que nos determina? Espinosa diz: nós temos consciência das nossas
ações, dos nossos desejos, das nossas crenças, das nossas idéias... A
gente tem consciência de tudo o que se passa com a gente (e temos
mesmo). Mas nós ignoramos aquilo que nos determina a agir, a reagir, a
pensar, a acreditar ou a desejar. Nós ignoramos a causa do que nos
determina e por isso nós imaginamos que somos livres. Isso é
liberdade? A liberdade através duma ignorância? Nós ignoramos o que
nos determina: ora, a determinação passa a ser uma ordem, ela passa a
ser um imperativo. E se a máquina social produzisse essas
determinações de modo imperceptível em nós? E se nós investíssemos
nessas determinações como se se tratasse da nossa salvação, como se se
tratasse do nosso crescimento, do nosso ganho de poder, do nosso
quinhão de cada dia, do nosso remédio, do nosso amortecimento, da
nossa anestesia pra tolerar a vida impotente e miserável que nos
atravessa no dia a dia?

Será que... então, nós não desejamos a própria servidão? Será que no
nosso modo de desejar não existe uma cumplicidade essencial, que faz
com que a gente invista num dever-ser e perca a capacidade de se abrir
pro acontecimento que nos mostra a potência de ser? Será que no acaso
– que é tortuoso, sem ordem e sem forma – não haveria um rigor? Será
que nos encontros ao acaso não há uma necessidade, não há um
encadeamento real de aumento e crescimento de potência?

Então, nós desinvestimos essa ordem real e investimos numa ordem
imaginária, simbólica, representativa, porque não somos mais capazes
de fazer do pensamento um acontecimento e do corpo também um
acontecimento. Nós imaginamos que o desejo começa em nós. Por isso vai
faltar, evidentemente, algo ao desejo.

Ora, se a grande maioria da humanidade vive desse modo, se torna uma
verdade universal que o desejo é constituído pela falta, Lacan já
dizia isso: "o desejo é constituído pela falta" (não só Lacan, outros
psicanalistas diziam a mesma coisa... e filósofos também, religiosos,
padres etc.). O desejo começa em mim? E o pensamento, começa no
sujeito? É o sujeito que pensa? E se eu dissesse que o pensamento é
idêntico ao tempo? Que o espírito, o pensamento e o tempo são uma
coisa só? E que o espírito, o pensamento e o tempo é o acontecimento
que atravessa o corpo? Eu poderia dizer que uma árvore pensa, quando
uma árvore "arvorifica"; eu poderia dizer que uma ameba pensa quando a
ameba "amebiza" (sei lá, eu não sei bem o que foi que eu disse, mas,
enfim, a gente pode ir inventando...); eu digo que o animal pensa na
medida que o animal animaliza; eu digo que o sol pensa na medida que o
sol "soliza" (acabamos de inventar!).

Então... será que então o pensamento não pensa em mim na medida em que
eu aconteço? Ou é o sujeito que pensa? Nós acreditamos que é o sujeito
que pensa, que é a consciência que pensa, quando na verdade o
pensamento é idêntico ao acontecimento que nos atravessa. Mas ele não
é apenas isso Porque se fosse apenas isso, eu diria: "a Natureza pensa
por mim". O pensamento, ele tem uma parte... aliás, o acontecimento,
ele tem uma parte em efetuar. E ele convida pra que eu dê a minha
parte, pra que eu tome parte no processo e não apenas pra que eu me
sinta vítima ou sofra esse processo. Eu posso sofrer da vida, mas eu
posso aproveitar da vida. Geralmente nós sofremos da vida, nós
sofremos do acaso, nós sofremos do caos, nós sofremos da
multiplicidade, nós nos sentimos injustiçados sempre que alguma coisa
dói mais do que dá prazer. E aí a gente sempre dá um jeito de desviar,
ser um pouquinho perverso, inventar um jeito de ter um pequeno prazer
pra compensar. A gente não sabe querer de modo inteiro. Por quê?
Porque a gente imagina que o desejo começa na nossa consciência. O
único desejo inteiro e pleno começa no acontecimento. Ele está lá,
antes de mim, me atravessando, olhando pra mim e não tem nenhum olho
nele lá, não tem nenhum corpo nele ali.

Existe o quê? Uma memória de futuro: o futuro olha pra mim, pede, me
chama. Tem algo que não existe, mas que é real, que me atrai, que não
tem forma prévia, que não tem figura, que não tem uma verdade ou uma
finalidade a ser atingida. Mas aquilo é o motor do meu próprio desejo.
E o desejo, ao atravessar a minha potência, faz com que o ato que
atualiza a minha potência se singularize, invente uma nova realidade.
Então, eu diria que existem duas maneiras de abordar a vida: uma é
aquela que sempre procura uma justiça, que procura uma verdade, que
procura uma adequação com uma forma ideal; e outra é aquela que... não
que aceita qualquer coisa, mas que sabe que o devir, que o movimento,
que o tempo e que o vazio que atravessa as realidades essenciais ou as
potências são necessários e plenos.

Há uma plenitude no acontecimento. E nessa mesma medida começam a, não
acusar o acontecimento, mas ser dignos, se tornam dignos do que lhes
acontecem. Ser digno do que te acontece não é sair recusando, não é
sair reclamando simplesmente, é aproveitar aquilo que há de
necessário, aquilo que há de essencial no próprio acontecimento. E a
fonte da vida está exatamente no acontecimento, no acontecer. Quando a
gente perde a fonte do acontecer, a gente fica separado do que pode. E
quando a gente fica separado do que pode, a gente vai querer o poder,
é óbvio! Ou, de uma outra maneira: sempre que eu idealizo, eu acho que
o ideal é superior ao real, eu to idealizando... "Ah, o ideal seria
tal coisa... O que está aqui não é ideal, é imperfeito". Eu idealizo
então, eu digo que há um valor superior, "aquilo vale mais do que a
existência". A existência é desqualificada na mesma medida em que eu
digo que aquilo vale mais. O Nietzsche diz: "há uma baixeza nos puros
que buscam o ideal, que se sentem elevados e nobres ao buscar ideais
nobres. O motivo é baixo. Qual que é a baixeza do motivo? É que eu
estou desinvestindo e desqualificando as relações e o acontecimento.

Então, essa baixeza geralmente nos atravessa ou atravessa os nossos
gritos de "fora o poder" ou "contra o poder" ou "quero ocupar o
poder". Será que é essa baixeza que fala em nós? Ou será que o que a
gente quer é abrir os poros da nossa sensibilidade entupida por
imagens? Abrir os poros do nosso pensamento entupido por signos de
linguagem e criar passagens no pensamento e passagens na
sensibilidade, modos de acontecer que ligam novamente a potência ao
que ela pode na sua roupa justa, na sua afirmação plena, na sua
singularidade e não através de idéias gerais, idéias universais, de
roupas demasiado largas que deixam passar de tudo ou qualquer coisa ou
simplesmente por deixar passar qualquer coisa, banalizam e
inviabilizam a afirmação plena da diferença, aquilo que há de
irredutível na diferença, através de equivalentes que fazem com que as
diferenças sejam trocáveis e representáveis. Então, você pode falar
"em nome de", "no lugar de". É por isso que é tão importante a gente
falar em nome próprio. Mas falar em nome próprio não é falar em nome
do eu. O eu é um universal que tira, "puxa o tapete" ou a capacidade
de a gente falar e fazer e acreditar ou pensar ou gerar em nome
próprio. O eu, ele se põe em lugar do nome próprio, exatamente pra
trair o nosso desejo. Onde há eu, há traição do desejo.

Então, o eu... Às vezes a gente pensa que é a coisa mais íntima. O eu
é um preposto do poder, é o Estado em mim. O Estado também está em mim
– não que ele esteja aí de modo definitivo, ele é alimentado por
mim... O tal do "superego"... evidentemente que é uma posição de
relação com o social (o que é permitido ou o que é proibido ou o que é
estimulado e reconhecido e premiado, o que é punido, o que é
desinvestido, o que gera rejeição. E sempre... eu olho pros rostos e
vejo no rosto um sinal de aprovação ou de rejeição. O espelho está bem
diante de nós, está nos nossos rostos: nós fazemos da nossa cabeça um
espelho. O espelho que toma o lugar da cabeça é o poder em nós. Nós
somos capazes de aprovar ou rejeitar. E dessa maneira nós estimulamos
modos de desejar ou desinvestimos modos de desejar. Nós reprovamos,
sutilmente, amavelmente. Como dizia um poeta inglês, David Herbert
Lawrence, "eu estou cheio das pessoas amáveis, porque são, de alguma
forma, uma mentira"6.

Por que não nos tornamos mais elementares? Por que não sentimos mais o
gosto da terra quando comemos uma maçã? Por que comemos como porcos?
Não sabemos mais experimentar, apenas consumimos imagens e isso não é
consumir, isso é miséria. Nós não consumimos, na verdade. Eu faria o
discurso exatamente ao contrário: nós não somos sociedades
consumistas, nós somos miseráveis. Não há valor burguês que não seja
tacanho. O amor pelo dinheiro e pela riqueza é o amor por uma
retenção. Diz Nietzsche, "é como o alemão que tem o "cú-de-chumbo". O
cú-de-chumbo, ou o dispéptico, aquele que tem o intestino travado por
alguma intoxicação; aquilo não pára de regurgitar em você... retorna,
retorna e retorna e você não digere, e você não acaba". O ressentido
nunca acaba nada. Será que a nossa vida não é um eterno ressentimento?
Será que a hora que eu ouço uma música eu não estou ressentindo? Será
que a hora que eu estou vendo um filme eu não estou ressentindo? Será
que a hora em que eu estou declamando, fazendo alguma coisa, uma coisa
banal até, eu não estou ressentindo? Será que eu não reajo a marcas
como um animal adestrado? Será que a máquina social não é especialista
em produzir marcas em nós? Em inscrever no corpo imperceptivelmente?
Em inscrever no tempo imperceptivelmente? Em produzir uma memória que
faz com que nós introjetemos uma unidade que seria um anti-caos, uma
defesa contra as diferenças ou então contra um desvio, uma
perturbação, um enlouquecimento, um labirinto mental, um labirinto
corporal?

Temos medo de enlouquecer. Esse medo é estimulado, ele é produzido. Um
dos motores da desqualificação do poder é produzir medo. Eu não sei se
vocês assistiram ou alguém aqui assistiu um filme do Michael Moore,
"Tiros em Columbine". Lá, num certo momento, ele diz assim: os Estados
Unidos, por exemplo, eles mantém um certo nível de amedrontamento, uma
taxa de amedrontamento da sociedade, sem a qual a sociedade não
estaria refém de um controle. A gente, há pouco, viveu uma experiência
com o PCC7 em São Paulo. E aí, houve um certo momento em que ninguém
saía de casa, porque o PCC tinha decretado o toque-de-recolher. E aí
você vê a sociedade toda refém, impotente e dizendo: "e as
autoridades? E o Estado? Onde é que está a polícia? Onde é que está a
justiça?... Os trabalhadores presos em casa e os bandidos soltos na
rua..." Discurso extremamente moralista! Porque não existe diferença
de natureza entre o PCC (ou o crime organizado) e o capitalismo
organizado. Eles são de mesma natureza. É por isso que rolou
negociação sim. Rolou negociação. Porque também o crime é um negócio
do Capital. O Capital funciona por acumulação. Ora, se o crime ajuda a
acumular, porque não acumular através do crime? Evidente! É a regra do
Capital.

O Capital não investe na vida, a não ser na vida enfraquecida, nessa
ele investe. Ele investe no enfraquecimento da vida porque ele precisa
da vida. Aí é o que diz o Negri: onde é que está a resistência? A
resistência está na vida, mesmo na vida enfraquecida. Claro, ela está
lá, respirando; ou como diz o Arnaldo Antunes, "o pulso ainda pulsa".
Pulsa? Pulsa. Mas isso que faz pulsar o pulso, pra que entregar de
bandeja pro poder? E nós entregamos. Qual a razão? Nós temos vantagem.
A gente tem que deixar de ser hipócrita... e cínicos. Nós ganhamos com
o poder. Nós ganhamos com esse tipo de sustentação da fraqueza, da
reprodução da miséria. Há um lucro. Nós vivemos numa sociedade do
lucro e da vantagem. Quem precisa do lucro e da vantagem? Aquele que
não sabe agir. Aquele que é impotente pra criar. Esse que olha a ação
do outro como necessitando de uma conseqüência positiva: "você tem que
agir e ser conseqüente nos seus atos... Pense nos efeitos e nas
conseqüências". Por quê? Porque o efeito e a conseqüência do seu ato
têm que ser útil socialmente, têm que ser lucrativos pros parasitas.

Então, há um dever-ser necessário na intencionalidade do desejo. Será
que toda a psicologia, assim como outras ciências (uma vez que aqui a
gente está mais com a psicologia, vamos falar da psicologia... vou
provocar um pouquinho...), será que a psicologia não é uma empresa de
inocular intencionalidade no nosso desejo? Não há sempre uma
necessidade de produzir uma finalidade "boa", "justa", "verdadeira",
"útil" pro nosso desejo? E quando você cria uma finalidade, você não
introjetou um começo, um senso comum? Você cria o bom senso, mas pra
ter o bom senso você precisa ter o senso comum. Qual é o senso comum?
"Todas as nossas subjetividades são miseráveis, são separadas do que
podem". Já dizia Lacan: "todos somos castrados". Será que a castração
é uma condição real da civilização? Necessária? Ou, como diria Freud,
um mal-estar necessário? Incorporar a Lei e seguir a Lei? Ou será que
não é uma nivelação por baixo, necessária pra que eu possa julgar o
desejo que não tem uma boa intenção, que não é civilizado, que não
funciona pela palavra, que não funciona pela lei, que não é
responsável, que não tem aquela razão necessária pra ser explorado,
pra se extrair demanda e mais-valia dele? Será que então a psicologia
não é um agente de "bons negócios"?

A justiça e a lei (agora pra mexer com advogados e juízes...) não é o
maior negócio do capitalismo? Onde mais se processa senão nos Estados
Unidos? Você olhou feio pra alguém: "vou te processar!". O melhor
negócio é a lei.

Diz um filósofo francês, chamado Gilles Deleuze: "as boas intenções
serão forçosamente punidas"... ou outra, um pouquinho mais agressiva:
"a lei foi inventada pra ser transgredida". A lei funciona pra quem
habita um plano de força anterior à lei, mais importante do que a lei.
Não há lei que não se sustente em relação de força. Todo o diagrama
social é um diagrama de forças. E aí dizem: "nós devemos abolir a
força, porque força é igual a violência, nós precisamos entrar nas
formas democráticas, nós precisamos entrar no saber, no discurso, no
bom tratamento, na civilidade, nós precisamos ser pares da ONU ou do
Tribunal de Haia. Nós vamos produzir uma 'Justiça Mundial' através da
lei". E o tempo inteiro a gente vê "Estado de exceção". O Estado de
exceção não é exceção, é a regra. O tempo inteiro... quem comanda a
ONU, por exemplo, evidentemente que são outras forças. Se eu vou
invadir o Iraque, eu invado com ou sem autorização da ONU. Esse
cinismo é explícito. Não é preciso se esconder nada, já ficou muito
claro que não tinha arma nenhuma lá. Não que eu morra de amores pelo
Saddam Hussein, não tenho o melhor afeto por ele, muito menos por esse
tipo de atitude.

O que se passa então é que as coisas acontecem em outro lugar. Quando
nós estamos preocupados com a lei, com a verdade, com a falta, com a
culpa, a culpabilização, o poder está esbanjando extração de
mais-valia, de mais-energia, de mais-fluxo, de mais-código... o poder
se esbalda com isso. Então, será que a lei não é um instrumento pra
separar a vida do que ela pode? E dizer... e ainda dizem: "ah, mas se
a lei está aí é porque, sem a lei, os homens se matariam, seria uma
selvageria só": Hobbes, já no século XVI ou XVII dizia que o homem em
estado de natureza é o homem no estado de "todos-contra-todos", no
estado de uma guerra perpétua. "O indivíduo sempre entra em
contradição com outro indivíduo, vai acabar matando, vai acabar..."
sei lá. E que pra haver paz na sociedade, pra haver desenvolvimento,
crescimento, segurança – segurança, desenvolvimento, paz... – é
preciso ceder uma parte do meu instinto animal, do meu desejo
animalesco e selvagem, porque ele é culpado, destruidor e – Freud
diria – "incestuoso e parricida". E com essa parte que eu cedo, junto
com a outra parte que você cede, que você cede, que você cede, forma
um bolo, e você cria o poder soberano.

"O poder soberano vai nos garantir justiça, segurança, desenvolvimento
e paz". E cria a lei, evidentemente. E aí diz: "Ah, mas a lei está aí
exatamente porque tem transgressão da lei". É o contrário, é
exatamente o contrário: a lei esta aí pra inventar a transgressão. É
como a violência (hoje eu estava lá na oficina do Valter (era oficina?
Minicurso! Enfim...) do Valter onde se dizia, onde ele mesmo dizia – o
Valter – que a violência é institucional. Evidentemente, ela começa
com a instituição. Não há uma violência extrema quando eu digo que
você tem que encontrar a verdadeira identidade em você? Quantas forças
e vozes eu esmago em mim? Alguém aqui viu "Estamira"8? Hoje passou?
Ótimo! Você vê aquela pluralidade de vozes, aquela potência, ela não
pede licença a ninguém pra falar. E você vê que ali não tem um ódio,
ou simplesmente uma paranóia, muito menos uma esquizofrenia que vira
trapo e que não organiza nada. Ao contrário, tem uma potência de
composição, de invenção, de produção de pensamento, ela produz
conceitos, os mais rigorosos!... ou de percepção, ou de consciência,
ou de sensibilidade, ela tem conceitos claríssimos e uma multidão a
atravessa – e não o ego dela, não é o ego dela que está ali. Ela diz:
"eu sou a beira". O que que é "a beira", senão esse horizonte singular
que atravessa toda a vida? Será que a gente é capaz de viver na beira?
De viver na ponta do tempo, na ponta do espaço? Naquele imediato onde
ainda não tenho nem memória, nem projeto, eu estou na pura vertigem da
passagem... E será que eu sou capaz de encontrar na passagem uma
continuidade, uma duração, uma intensificação, uma consistência ao
passar?

Transmutar a minha diferença, fazer com que a minha diferença mude de
natureza e eu entre noutra multiplicidade, me torne ainda mais
diferente do que sou; ou, para usar as palavras de Nietzsche, "esticar
o arco", o arco tenso... quanto mais tenso é o arco, mais longe vai a
flecha. E será que a nossa sociedade do prazer, da festa não é uma
sociedade que se apressa em ter prazer porque não suporta o desejo
demasiado intenso? Um desejo intenso e tenso, ele tem que relaxar
rapidamente? Por que será? Será que a tensão incomoda muito? Nós não
sabemos mais tensionar o arco, que é a relação entre a nossa potência
e o nosso ato. Nós não sabemos mais vibrar. Diz Nietzsche: "chegará um
dia em que o homem terá desaprendido a vibrar. Eis o último homem –
diz ele –, o homem instruído". Toda instrução se põe no lugar do
acontecimento. Será que o saber que nós veiculamos e produzimos na
instituição é um saber vivo, dinâmico? Ou ele é instrução morta, que
eu simplesmente consumo pra me organizar melhor, pra articular melhor
meu discurso, pra me tornar uma autoridade mais competente? E de onde
vem inclusive esse saber que veiculam hoje como saber morto? Ele não
teve momento vivo? E será que eu não sou capaz de reencontrar a vida
que teve inclusive nesse saber que hoje está morto? Fazer a genealogia
dele e dizer: "Que força produziu esse saber? O que queria esse desejo
que inventou essa maneira de viver e essa maneira de pensar?"

Então, eu estou aqui fazendo algumas provocações e ao mesmo tempo
alguns convites, no sentido de que nós precisamos recriar a confiança
na vida. Nós precisamos parar de desconfiar do acontecimento, de
inocular desconfiança. A gente precisa ser mais generoso, inclusive
nos maus encontros; a gente precisa saber odiar os nossos... aliás,
amar os nossos inimigos; da mesma maneira também devemos odiar os
nossos amigos, exatamente porque os amamos. Ou seja, tem um ódio
produtivo, uma destruição necessária, uma destruição daquilo que
destrói a vida: essa agressividade nós precisamos reconquistar no
lugar da violência e do ressentimento. Ser agressivo com doçura, sem
ser violento. A vida não precisa disso, mesmo porque o que tem que ser
destruído não sou eu nem o outro, mas uma maneira de ser que nos
atravessa. A coisa é impessoal.

Então, essa máquina de guerra da vida, necessária, esse combate
necessário, está antes de tudo em nós, nós precisamos aprender a fazer
a lição de casa. Hoje eu ouvia, também nesse minicurso lá do Valter,
alguém dizer "do que precisamos fazer, pra ajudar o menino tal, as
coisas tais", enfim... sempre a gente buscando ajudar, não é? O tal do
"amor ao próximo"... De novo Nietzsche (eu não me contenho, eu tenho
que falar, enfim... porque ele me atravessa o tempo inteiro) ...
Nietzsche diz assim: "o amor ao próximo é um mau amor a vós mesmos".
Então, quando você quer fugir de você, e não tratar aquilo que mais
lhe interessa, que é mais importante, que você tem que elaborar e
processar pra exatamente se tornar criativo, generoso, produtivo, você
desvia de si e vai amar ao próximo. E com que objetivo? Você vai
depois cobrar mais tarde a ajuda que você vai dar. É como a oferta de
crédito pra África e pra América do Sul, pros países do sul... A
oferta de crédito de um banco: "tome um cartão de crédito, você é um
cliente especial"... então, sempre essa oferta de crédito...

Eu não sei como é que está o tempo também, eu não quero me prolongar
demais, a gente pode abrir pra debate... Oi? Como? Abrir pra debate...
vamos lá. Então pronto!

Aplausos...

Eu não sei como é que está o tempo também, eu não quero me prolongar
demais, a gente pode abrir pra debate... Oi? Como? Abrir pra debate...
vamos lá. Então pronto!

Aplausos...

Pergunta Gilberto: Eu tenho assim, muitos questionamentos. Não sei se
vai ser apenas dez minutos, mas tudo bem. Eu vou fazer uma seqüência
de questionamentos e aí quando for dando você chega, você dá um basta
pra ir respondendo. Meu primeiro questionamento – e, aliás, a maioria,
todos eles em relação ao poder e... o subtexto da sua explanação é a
questão do poder, é... Qual o poder que é capaz de ir de encontro com
o poder pra acabar? Se toda potência é positiva, e todo poder tem
potência, logo o poder é positivo? Você disse: "onde existe presença o
poder não cola". Qual o poder da presença? O poder seria uma maneira
de ter poder? Qual o mais certo a utilizar nos dias de hoje: "penso
logo existo" ou "tento pensar logo desisto de existir no pensamento"?
Se o espelho disposto na nossa cabeça é o poder em nós, quando somos
capazes de enfrentar o próprio reflexo sem conflitos distorcidos? Se
ganhamos com o poder, não seria hipócrita, não seria hipocrisia e
moralismo querer destruí-lo ou destituí-lo? Sem o poder o homem é um
ser completo? Ou o poder completa o homem?... Aí, quando você fala de
Estamira eu lembrei do que ela fala, do que ela fala do ser... Eu ouvi
ela falar uma coisa interessante, assim, ela diz que ela não é ruim,
aliás, ela diz que ela é ruim, ela não é perversa, e daí a relação com
o perverso...

Fuganti: Eu vou responder alguma coisa aleatoriamente, aí você vai me
chamando a atenção sobre aquelas outras questões... Em primeiro lugar,
o que a gente chama de poder é sempre um tipo de entidade exterior que
se constitui com a nossa colaboração. É por isso que no poder tem
potência. Mas a potência que tem no poder é a potência separada do que
pode, não é a potência plena. Portanto o poder é sempre ruim. Não
existe poder bom. Ao menos no conceito que eu estou produzindo aqui em
relação à potência. A potência, ela pode ser plena, mas ela pode se
separar do que pode. Pode acontecer à potência que ela se separe do
que pode. Como? Num mau encontro. Mas nós temos muitos maus encontros.
A questão é: como evitar os maus encontros? Ou melhor ainda: como
aproveitar inclusive os maus encontros sem se separar do que a gente
pode, do que nós podemos? Enfim...

Então, a questão é: a potência não é um poder. A potência é uma
capacidade real imanente à natureza. A potência se cola à capacidade
que a própria natureza tem de se auto-sustentar, de produzir a si
mesma e de produzir a todas as coisas. A potência está aí. Então a
potência é algo autônomo e imanente, interno. O que é exatamente a
potência? A potência é sempre potência de acontecer; ou sempre
potência de se modificar; ou sempre potência de gerar diferença ou de
diferenciar; ou sempre potência de multiplicar, gerar multiplicidades.
A diferenciação, a multiplicidade, as singularizações são potências e
não poderes da vida. O poder, ele precisa fraudar a singularidade,
precisa submeter a diferença através de uma semelhança que se espelha
numa identidade. Ele precisa unificar a multiplicidade através duma
unidade que seria superior a essa multiplicidade. Ele precisa inventar
um ser transcendente que sobrevoaria o devir ou os devires. Ele
precisa criar um plano que nós poderíamos chamar de plano supérfluo.
Se tem uma coisa que a gente precisa destruir na vida é o que é
supérfluo. Nietzsche diz uma coisa interessante: "o que pode ser
destruído merece sê-lo". É uma frase, é um enunciado grave não é? Bem
grave...

Então, existe algo em nós que não pode ser destruído? Procure isso.
Isso é a única coisa que interessa, que tenha alguma coisa na vida, em
nós, que não pode ser destruído. É com isso que a gente tece a vida. A
vida é essencial, porque o resto é adereço, é adorno, é enfeite, é
supérfluo. A Virgínia Woolf dizia: "Eu penso que ao escrever eu estou
fazendo uma espécie de saturação do átomo, eu acabo encontrando só o
essencial". O Artaud diz: "eu não quero nem a carne nem o sangue, eu
quero o osso"... É uma maneira também de dizer que ele quer o
essencial, que ele quer o implacável, que ele quer o indestrutível.
Existe algo que é indestrutível. Então, é esse algo que é a potência e
não o poder. E essa potência é potência de acontecer ou de modificar,
porque se não fosse potência de acontecer, algum acontecimento poderia
destruí-la. Então, você só se abre se você cultivar a potência. De
qualquer jeito você não se abre, você precisa se fechar, porque você
não tem a capacidade de se modificar.

Então, será que não é interessante, ao invés de a gente "buscar a
conservação e evitar a criação"... não é mais importante a gente fazer
da criação uma capacidade de encontrar aquilo que é indestrutível e de
fabricar inclusive o indestrutível? Será que não existe uma potência
de criar que é indestrutível e que nos atravessa, e nós participamos
dela, e que nos faz também? Será que ao criar a gente não se cria a si
próprio? Então, isso não tem a ver com o poder, tem a ver com
potência. O poder sempre precisa o quê? Extrair ou parasitar algo fora
pra sustentar a sua força. Então, hoje eu estava brincando na hora do
almoço, teve aí um almoço, e eu dizia que existem dois tipos de força
ou imagem de força... existem mais na verdade, mas imagina-se que
aquele que é forte é aquele que tem poder. Só que não se diz que
aquele que tem poder depende de uma rede que sustenta esse pode. Basta
destruir essa rede e o poder dele vai embora, a força dele vai embora.
Isso era força? Era nada.

Hegel diz uma coisa interessante, ele disse assim: "o senhor é aquele
que é reconhecido pelo escravo". Quem é o escravo? O escravo é aquele
que se agarrou à vida; ele não é um verdadeiro guerreiro, segundo
Hegel, ele queria sobreviver, ele prefere a sobrevida do que a vida.
Então ele, na hora de ser morto, ele olha pro outro e diz assim: "não,
eu te reconheço como mais forte, você é mais forte". Aí o senhor
empina o pescoço. O Nietzsche diz: "que senhor é esse, que precisa do
olhar do escravo pra ser senhor?"

Uma outra coisa: "o poder exige reconhecimento". Existe uma idéia
muito antiga no ocidente, que está na bíblia e em todos os outros
saberes que são dominantes no ocidente, que diz assim: "o pecado é o
pecado do orgulho". Que que é o orgulho? O orgulho é não reconhecer a
Deus. O que que é Deus, o a vontade de Deus? Muitas vezes é a vontade
do sacerdote que fala em nome de Deus. Cresce o poder do sacerdote
quando ele faz a separação entre esse poder oculto e o simples mortal.
Então você tem que reconhecer o poder oculto, e aí você é humilde, não
pode ser orgulhoso e não reconhecer e ter vida própria. O poder
demanda então reconhecimento. A potência não... Nietzsche diz: "o
homem livre é aquele que está não só acima da censura do outro. Ele
está também acima do elogio". E eu dizia antes, a melhor, o jeito mais
sutil do poder nos capturar é nos elogiando, nos seduzindo. É por
sedução, muito mais do que por repressão – já dizia Foucault, Foucault
diz isso –, o poder não age tanto por repressão, ele age muito mais
por sedução. Como ele diz do século XIX, nunca se falou tanto de
sexualidade. Era a era vitoriana, uma era moralista, e se falava muito
sobre sexualidade. Então, eu sei que tem mais coisas aí, mas eu não
sei se isso já te dá um...

Pergunta Pedro Ivo: É... quando você falou da ética, eu me lembrei do
texto – se eu não me engano, de Quinet, na Folha de São Paulo de uns
quinze anos aí atrás – em que ele articulava, logo que... acho que
havia sido traduzido o seminário da ética, de Lacan, o seminário 7, e
ele falava justamente da ética aristotélica, dessa articulação com
exatamente o moralismo aristotélico. Aí, quando você fala agora, eu
fiquei pensando sobre o que aponta Lacan lá no seu seminário 7,
justamente sobre esta questão ligada ao desejo do sujeito e que nós
poderíamos... Esses dias eu estava falando isso em aula e causou
espanto (não foi aqui em Conquista), é... sobre digamos assim, a
questão do perverso, não é, aquilo a que se chama perverso. A questão
que é, de fato, que ética que você vai discutir... é a ética daquilo.
Está posto aquele fato, você não pode comparar aquilo que se passa com
ele com aquilo que pensam outros. Então... sim, e aí muito da sua fala
– eu não tenho leitura de Deleuze, a minha leitura de Deleuze é muito
pouca; e Espinosa, agora recentemente de novo através de Quinet, por
estar estudando sobre depressão –, mas muito de sua fala me faz pensar
exatamente naquilo que são postulados freudianos e lacanianos. Por
exemplo, a questão do atravessamento do... não é, vamos dizer, daquilo
do significante que nos atravessa, do desejo do outro que nos
atravessa, de que o "sou"... "se eu sou alguma coisa, sou no conhecer
disso, e não mais que isso", não é? Esse desejo... quer dizer, se o eu
não está salvo, muito menos está salvo o sujeito do desejo. Então,
nesse sentido é que eu te pergunto e eu vejo no seu – pra ser
lacaniano –, na sua enunciação, efetivamente, uma desconfiança nos
postulados freudianos e lacanianos, da psicanálise, está certo? Aí eu
queria te escutar um pouco sobre isso...

Fuganti: Acho que são ótimas questões, ou uma ótima questão... De
fato, existe uma diferença, existe não exatamente uma desconfiança, e
não também afirmando... Não exatamente uma certeza de que Lacan ou
Freud estão errados, eles estão completamente certos... Freud está
completamente certo ao identificar o neurótico, ao identificar o
inconsciente recalcado, ao apreender um desejo supostamente incestuoso
e parricida. Esses enunciados todos gerados por Freud estão corretos.
O que está fundamentalmente incorreto – e aí não se trata de
incorreção, não se trata de erro; diz Nietzsche: "todo erro, na sua
essência, é covardia" – é Freud universalizar o incesto e o
parricídio. Dizer que Édipo – e a leitura que é feita de Édipo e de
Hamlet – universalizam ou dão a verdade do desejo.

Então, isso é uma questão platônica, é uma questão que o
confessionário cristão inventou também, que significa o teu desejo
("que que quer dizer na verdade o teu desejo lá escondidinho?"), e aí
fica-se inventando transmutações, aliás, trocas simbólicas pra dizer
que o desejo real, verdadeiro mesmo, é aquele criminoso que está lá
escondido no seu segredinho sujo. Isso acontece por quê? Porque tem
forças nas formações sociais capitalistas que inventaram um tipo de
família, que não existiu sempre, que começou nos séculos XVIII e XIX,
que é a chamada família nuclear burguesa, família que tem papai, mamãe
e filho, que não tem mais os avós, tataravós, os tios, os primos, os
afilhados etc. (como era na Idade Média). Esta família, que já no seu
modo de organizar espacialmente, fisicamente, assim como
discursivamente, produz necessariamente imagens atualizadas da mãe, do
pai e do filho. E acredita-se que o desejo vem desse filho que deseja
algo chamado mãe e que odeia ou quer destruir algo chamado pai. Ora,
pro desejo chegar a habitar essa imagem enquanto filho, identificar
numa imagem enquanto mãe e outra enquanto pai é preciso que ele esteja
todo capturado na consciência. Não tem nada de inconsciente nisso.
Então o erro fundamental de Freud foi acreditar que isso estava no
inconsciente. Isso está na produção social de consciência. Nietzsche
diria: está na produção social de má consciência. Que que é a
má-consciência? É a consciência de que a causa do mal vem de mim
mesmo.

Então, isso é uma função da máquina social, que precisa introjetar a
culpa pra que você baixe a cabeça, pra que você diga "a verdade não
está contigo, a verdade não está com o acontecimento, você não...
esses saberes locais são meras opiniões, tem que observar a
ciência"... Bom, enfim... Lacan vai dizer coisas do tipo: "o real é
impossível"... Eu diria, Lacan tem toda razão. Pra quem que ele é
impossível? Pra grande maioria dos homens o real se tornou impossível,
apesar do real continuar aí, na boa, sendo produzido. Mas o homem não
acessa mais diretamente o real, a não ser através de imagens e signos,
ok! Mas então eu, se pertenço aos homens, estaria condenado a não
acessar mais o real? Por quê? A partir de que forças em mim? Quem fala
em mim? Como é que eu estou disposto pra chegar a não ser mais capaz
de encontrar o real? O que que é exatamente esse significante, ele não
se sustenta num diagrama de forças? E isso... não é que faltou Lacan
dizer, Lacan não disse e não quis dizer isso. Ele disse o que
interessava a ele dizer. Então, ele não estava errado não, ele estava
certíssimo: o significante, como o grande Outro, ele é o espelho
essencial pra que se concretize a ausência do objeto total. Nunca vai
ter objeto total, eu vou ter sempre um objeto parcial preenchendo
insuficientemente o meu desejo, que vai fazer com que no fundo eu
admita a realidade essencial que é a da castração, "nós somos todos
castrados"...

Então, eu diria: funciona? Funciona! Pra quem? Pra quem está separado
do que pode; é a verdade? É a verdade! De quem? De quem está separado
do que pode; é a verdade de todos? Não, desculpa, aí não dá! Aí é uma
questão política e ética do desejo. Então, de que desejo se fala, do
desejo capturado? Ok, então ele tem razão. Então é como...

Pergunta Pedro Ivo: Esse "do que pode" não seria algo da ordem da idealização?

Fuganti: É da ordem da idealização. Por quê? Porque não tem
corporeidade, é virtualidade, está no puro plano virtual. Mas sem esse
virtual, não haveria realidade alguma. Esse virtual, ele é totalmente
real, mas ele não é real como um poder que me é dado, que eu tomo; ele
é real como algo que me sustenta e que me faz viver, ele já me
atravessa necessariamente. Então, a idealidade está no acontecimento
enquanto ele não acontece. Mas, como diz Nietzsche, eu não preciso
refutar os ideais, eu apenas calço luvas contra eles. Porque o ideal
que quer ser superior à vida e à natureza... ah, esse é perigoso! Esse
é inimigo. Por quê? Porque ele está desqualificando a vida como uma
forma inferior, esse é o problema. Agora, o ideal no acontecimento, o
que que é? O ideal no acontecimento é um simulacro? O simulacro é um
fingimento? Não, o simulacro é uma produção, é uma condição de
produção de realidade – é como a fabulação em Bergson. Por quê? Porque
na passagem não tem figura e não tem forma. Então, não se... Como eu
finalizar ou projetar o acontecimento, dar forma a ele, ele muda na
hora em que eu chego lá. Na hora em que eu chego no meio, o meio já
foi, o horizonte mudou...

Intervenção Pedro Ivo: O sujeito diz: "Ah, isso não está bom, esse
acontecimento não é 'o' acontecimento..."

Fuganti: É porque ele não encontrou foco, só isso... É uma questão de
foco. É como uma coisa que me faz mal. Diz Nietzsche: o que é
necessário para que você não ressinta alguma coisa? Você fez um mau
encontro, uma coisa te fez mal. Que que acontece com a maioria dos
homens? Algo que faz mal toma toda a tua alma e o teu corpo, você não
consegue sair daquela sensação... Por quê? Porque você já vive sob uma
marca, então aquilo toma conta de você, um estado de corpo passa a ser
a essência. Aí é uma inversão. A essência é uma potência sem forma, o
estado de corpo já tem uma forma. E aí você diz que essa forma de um
estado de corpo é o todo da essência, você está reduzindo, certo?

Então, na medida em que você reduz as coisas a um estado de corpo,
você não é mais capaz de encontrar a face ou a interface sob a qual
aquilo tinha algo de comum na relação. Te fez mal? Te fez, mas tinha
algo de comum. Então, a primeira coisa é encontrar o que há de
necessário e comum na relação. Ora, a partir daí eu posso transmutar o
que me fez mal. Por quê? Porque... Onde eu posso ser ativo? No modo de
me relacionar com aquilo. Eu posso mudar a maneira. Então, isso é o
que eu posso transmutar. Eu não preciso mudar a natureza ou melhorar a
natureza. Eu transmuto realmente, eu crio a condição. É aí que eu me
torno ativo. Então, é isso talvez que a psicanálise precisasse começar
a investir mais (ou certas psicanálises, porque tem algumas que já
investem, enfim... ou algumas psicologias...). Mas investir no quê? Na
capacidade de acontecer, ao invés de ficar metendo o dedo na ferida e
buscando traumas e memórias, não é? Porque a gente fica simplesmente
incentivando uma memória que não é memória do futuro, mas é a memória
da impotência que me aconteceu e que não vai fazer diferença nenhuma,
a não ser eu "reconhecer que eu devo ser humilde, que eu devo ser..."
e entregar de bandeja o que tem de melhor no acontecimento. Então, é
por isso que a memória tem que virar memória de futuro, daí a memória
é uma coisa interessante...

Vitória da Conquista, Bahia
04 de maio de 2007

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Fwd: FW: Coxia | Informativo Semanal da SP Escola de Teatro | 30/11/2012



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Coxia | Informativo Semanal da SP Escola de Teatro | 30/11/2012

 
 

Eugenio Barba na Escola

É com grande orgulho que a SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco firma parceria com a produtora Palipalan Arte e Cultura e com a Editora É Realizações para o lançamento da nova edição do livro "A Arte Secreta do Ator – Um Dicionário de Antropologia Teatral", de Eugenio Barba e Nicola Savarese.

A obra, publicada originalmente em 1983, já foi traduzida para mais de 20 idiomas e é fundamental na biblioteca de quem estuda e faz teatro. A publicação estava esgotada, e, agora, finalmente, volta ao mercado nacional com uma nova edição, revista e ampliada. Seu lançamento será no dia 7 de dezembro, às 19h, na Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro, e contará com a presença dos autores, Eugenio Barba e Nicola Savarese, que darão uma palestra sobre o livro, com mediação da diretora de teatro brasileira Cibele Forjaz, e as participações de Edson Filho, presidente e editor-chefe da É Realizações, e da tradutora e pesquisadora Patrícia Furtado de Mendonça.

O evento será aberto ao público, seguido de sessão de autógrafos e coquetel. Para participar, basta se inscrever pelo e-mail: palipalan@palipalan.art.br. Aos que não conseguirem comparecer, uma boa notícia: o evento será transmitido via videostreaming, no endereço www.erealizacoes.com.br/aartesecretadoator.

Paralelamente ao lançamento, haverá outros dois eventos, com a presença dos autores da obra. Na véspera, dia 6 de dezembro, acontecerá uma conferência com Nicola Savarese, na Sede Roosevelt, aberta ao público, a partir das 19h30, sobre o tema "O Oriente Teatral do Brasil". O evento terá tradução consecutiva de Patrícia Furtado de Mendonça. Já no dia 8 de dezembro, às 18h, também na Sede Roosevelt, será a vez de Eugenio Barba falar sobre a sua obra e sua trajetória no teatro, em uma "Mesa de Discussão", com participações de Ivam Cabral, diretor executivo da SP Escola de Teatro, e Carlos Simioni, da companhia Lume de Teatro. A mediação ficará a cargo do jornalista Valmir Santos.

 

O Menino Luz

No dia 3 de dezembro, às 20h, será apresentado, na Sede Roosevelt da Escola, o espetáculo "Menino Luz", dirigido pelo aprendiz Durval Mantovaninni. A peça, escrita por Pierce Willians, trata sobre loucura e traz um contador de histórias que está confinado em uma clínica psiquiátrica. De lá, ele fala sobre um menino, cujos mistérios e peripécias preocupam a mãe. Por seu jeito diferenciado, acaba sendo excluído, assim como o próprio contador de histórias. Na montagem, Silvia Masulo sobe sozinha ao palco.

A apresentação é gratuita e aberta ao público. Para mais informações, clique aqui.

 

Mais Balagan

Está sendo realizada, na Sede Roosevelt da Escola, a Mostra "Recusa e Prometheus: uma Simetria Invertida", que apresenta os dois mais recentes espetáculos da Cia. Balagan. O evento conta, ainda, com encontros com artistas e estudiosos, exibição de filmes e uma apresentação musical.

Nesta terça-feira (4), às 20h, serão exibidos os filmes "A Arca dos Zo'é", dirigido por Vincent Carelli e Dominique Gallois, e "Hotxuá", de Letícia Sabatella e Gringo Cardia. Já na quarta (5), no mesmo horário, o antropólogo Pedro Cesarino e o professor Flávio Ribeiro de Oliveira participam do encontro "Sobre a Poética". As duas atividades são gratuitas.

O primeiro espetáculo em cartaz no espaço é "Recusa". A peça se passa em 2008, quando dois índios da tribo Piripkura – que até então era dada como extinta – aparecem perto de uma fazenda em Rondônia, virando notícia em todo o País. Com texto assinado por Luís Alberto de Abreu e direção de Maria Thais, a peça tem sessões de quinta a domingo.

Já "Prometheus – A Tragédia do Fogo", vencedor do Prêmio Shell de Teatro na categoria Música, tem apresentações marcadas para as quintas, sextas, sábados e domingos de novembro. Na montagem, as vozes dos atores-narradores, das personagens do mito e do coro se sobrepõem e se articulam no relato dos diversos eventos que compõem o mito prometéico – a criação do homem, a separação dos deuses e dos homens, do homem e da natureza, dos irmãos Prometeu/Epimeteu, o roubo do fogo sagrado, a condenação do titã ao Cáucaso, entre outros temas.

Ambas as montagem continuam em dezembro, com o preço único de R$ 10.

 

Bate-Papo Online com Cássia Navas

A pesquisadora e professora de dança Cássia Navas participa do Bate-Papo Online realizado pela Escola na próxima quinta-feira (6), às 16h. Durante a conversa virtual, a convidada fala sobre dança e responde a questões sobre os vídeos "O Alfabeto da Dança" e "Todo Mundo Dança", publicados no canal do YouTube da Instituição. Para assistir às videoaulas, clique aqui.

 

O Tubarão e o Sonhador

Exatas 25 pinturas a óleo sobre fotografias que revelam as transformações humanas e arquitetônicas do Centro de São Paulo compõem a exposição "O Tubarão e o Sonhador", de Fabio Delduque, com curadoria de Diógenes Moura e participações de Sandro Karnas, Teatro de Maquinaria, Gabriel Spinosa e Sonora Tech.

Hoje (30) é o último dia para conferir a mostra, que é gratuita e está em cartaz na Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro.

 
 

SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco

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