quarta-feira, 29 de junho de 2011

"Menina a caminho" adaptação do conto de Raduan Nassar





Esperamos vocês!

Direção:
Eduardo de Paula

Assistência de Direção:
Douglas Vendramini

Elenco:
Ana Meca
Állan Paiva
Daniela Elias
Edilia Araujo
Fernando Moraes
Giovanna Monteiro
Gustavo Cruz
Juliana Molla
Michael Canuto
Rapha Perrone
Viviane Schincariol

Teatro Escola Macunaíma

Dias 5, 6 e 7 de julho
R. Adolfo Gordo, 238 - Barra Funda - próximo ao metrô Marechal Deodoro

terça-feira, 28 de junho de 2011

"Onde mora a inteligência"



RUBEM ALVES 

Onde mora a inteligência 


Eu sabia que a fórmula de "x" não havia caído dos céus; ela aparecera depois de uma longa travessia

RETORNO AO lugar onde parei, na Escola da Ponte, em Portugal. A menina que me levava me havia dito umas coisas que me espantaram por não combinarem com aquilo que eu pensava saber sobre as escolas. Foi então que me veio à cabeça a sabedoria do Riobaldo: "O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia". Sem intenção consciente, o dito do Riobaldo passou por uma transformação pedagógica e virou "a inteligência não está na saída nem na chegada, ela se dispõe para a gente é no meio da travessia". A inteligência acontece no "estar indo". Quando ela não está indo, ela está dormindo...
Lembrei-me dos meus anos de ginásio, a pedagogia que os professores usavam naqueles tempos, e não sei se as coisas mudaram, porque o hábito tem um poder muito grande... Pois os professores me ensinaram as coisas que estavam na chegada, mas não me contaram como foi que a travessia tinha sido feita.
O professor entrou em sala e anunciou: equação do segundo grau. Aí, ele se pôs a falar e a escrever símbolos no quadro negro. Aprendi automaticamente, sem entender, porque tinha memória boa: "x = -b + ou - raiz quadrada de b2 - 4ac sobre 2a". Lembro-me de um colega que não havia entendido a coisa, estava perturbado com o símbolo "x" e veio me perguntar: "Afinal, qual é mesmo o valor de "x"?
Eu sabia que a fórmula para se determinar o valor de "x" não havia caído dos céus. Ela aparecera na cabeça de algum matemático que a deduzira séculos atrás depois de uma longa travessia numa jangada feita de pensamentos. O dito matemático a descobriu porque seus pensamentos estavam infelizes. "Ostra feliz não faz pérola". O que é dor para a ostra é uma interrogação para a cabeça.
Mas por onde o pensamento matemático navegou para fazer a travessia, isso o professor não ensinou. É possível que ele não soubesse, ou que achasse que isso não importava. Para que entender a gravidez se o nenê já nasceu? O que importa é comer o bolo e não saber a receita...
Me ensinaram também as três leis dos movimentos dos planetas que Kepler descobriu, curtinhas, fáceis de guardar na memória. Mas essas três leis na minha memória em nada contribuíram para dar poder à minha inteligência. Enquanto a memória trabalhava para decorar a "chegada", minha inteligência dormia. Nada me contaram sobre os caminhos fascinantes por onde errou o pensamento do astrônomo por dezoito anos. Uma hipótese errada atrás da outra, um caminho que não levava a lugar algum depois do outro. Por que gastar tempo com os erros da "travessia", se se pode ir diretamente à "chegada", conclusão? Não se percebe que, ao assim proceder, o aluno ganha uma memória musculosa e uma inteligência flácida...
Pensar é como escalar montanhas. Um alpinista recusaria o caminho rápido e seguro de chegar ao topo da montanha via helicóptero, sem sofrer e sem suar. Onde está a graça? O que ele deseja são os medos, os calafrios, os desafios da montanha, o que ele vê enquanto sobe... A arte de pensar se ensina fazendo a inteligência seguir o caminho da travessia, com todos os seus erros e enganos.

PS: Se você ficou curioso sobre a história da equação de segundo grau, consulte o Google.

(Folha de Sao Paulo - 28/06/2011: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2806201104.htm)






sábado, 25 de junho de 2011

FESTIVAL 2ª Semana Internacional de Teatro de Animação


FESTIVAL 2ª Semana Internacional de Teatro de Animação

Sombras e bonecos viram protagonistas

Milena Emilião

A partir de amanhã (dia 25), companhias da França, Bélgica, Espanha e Brasil participam da 2ª Semana Internacional de Teatro de Animação, festival gratuito promovido pelo grupo Sobrevento. Serão 18 apresentações em que sombras e bonecos viram os protagonistas das montagens. 

Espaço Sobrevento - r. Cel. Albino Bairão, 42, Belenzinho, tel. 3399-3589Perturbações, 65 min., 12 anos, sáb. e dom.: 20h. Las Tribulaciones de Virginia, 12 anos, ter. a dom.: 22h. A Cortina da Babá, 3 anos, seg. e ter.: 20h. Um Príncipe Chamado Exupéry, 6 anos., qua.: 14h, 16h, 18h e 20h. Pft Fft fft, 12 anos, qui.: 20h. Até 3/ 7. d i n 


terça-feira, 14 de junho de 2011

A PEDAGOGIA DA TRAVESSIA

São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2011


RUBEM ALVES
A pedagogia da travessia


Os alunos, ao observarem o professor, perceberão que a aprendizagem não está na partida nem na chegada

A MENINA QUE me conduzia pela Escola da Ponte na minha primeira visita me disse que na sua escola não havia professores dando aulas. Espantei-me. Nunca me havia passado pela cabeça que houvesse escolas em que professores não davam aulas. Pois as aulas não são o centro mesmo da atividade escolar? As aulas não são o método que as escolas usam para transmitir saberes? E os professores não são os portadores desses saberes? Todo mundo sabe que a missão de um professor é "dar a matéria"... As escolas existem para que as aulas aconteçam... E agora essa menininha me diz que, na sua escola, não havia professores dando aulas e ensinando saberes...
E mais: naquela escola, as crianças não ficavam separadas em espaços diferenciados, de acordo com seu adiantamento: os miúdos ficavam misturados aos graúdos... Mas a separação dos alunos segundo os seus saberes não seria uma exigência da ordem e da eficácia?
Disse ainda que não havia nem provas nem notas. Mas a avaliação... Como se pode avaliar o que foi aprendido se não há provas? Provas são instrumentos de avaliação!
E também não havia as divisões no tempo do pensamento. Nas escolas normais, o pensamento é como na televisão: a intervalos regulares, muda-se o programa. Uma campainha toca: 45 minutos, todos pensam matemática. Transcorridos 45 minutos a campainha toca de novo, os pensamentos da matemática são guardados e, no seu lugar, são colocados os pensamentos de história, até que a campainha toque de novo e os pensamentos de história sejam substituídos pelos pensamentos da biologia. Tudo em ordem perfeita, como soldados em parada, todos caminham juntos aprendendo as mesmas coisas no mesmo tempo, numa imitação das linhas de montagem. Que extraordinárias "máquinas de pensar" são os alunos, que mudam os pensamentos automaticamente ao comando de uma campainha!
Perguntei, então, à menina: "E como é que vocês aprendem?". Ela não titubeou: "Formamos grupos de seis alunos em torno de um tema de interesse comum..."
Percebi que, naquela escola, não havia nada que se assemelhasse às "grades curriculares". Grades... Somente um carcereiro desempregado poderia ter ideia tal. Grades. Não há opções, não há escolhas: um desconhecido colocou os saberes obrigatórios dentro de uma grade; conhecimentos "engradados"...
Mas a menina me havia dito que tudo se iniciava com o desejo de aprender algo, curiosidade, que nem precisava estar em qualquer grade obrigatória. Esse desejo era a alma da aprendizagem, a provocação da inteligência. Continuou:
"Convidamos um professor para ser nosso orientador..."
Pode até acontecer que o professor nada saiba sobre esse "tema de interesse comum". Não importa. Os professores não sabem tudo. Não sabendo, pesquisam. E os alunos, ao ver o professor explorando os caminhos que o levam àquilo que ele não sabe, perceberão que o aprender não está nem na partida nem na chegada, mas na travessia, como disse o educador Riobaldo.
E fiquei a pensar em como seria essa coisa a que se poderia dar o nome de "pedagogia da travessia"...


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ps: Este é um blog sem fins lucrativos e com finalidade didática.